s/t

Desejo rasgar a fina camada da casca
E cutucar a chaga com os olhos amolecidos
Desejo sentir algo além de marasmo prostrado
Sentir o que a cobiça traiçoeira reserva pra gente
Adentro o pensamento inquieto à sabotagem
Um deslumbramento com cenários incinerados
Recordações fotográficas de memórias falsas
Corpos esqueléticos paralisados na beira-estrada
Sucumbindo ao desgoverno atemporal
Das mais antigas sociedades necrosadas

Pela burrice voluntária que engatinha atrás do osso roído, isso me inspira de um jeito masoquista.

s/t

Um pedaço abocanhado deixou a marca
Numa carne ferida, mutilada e vazia
Há tempo marinando entre os risos e desprezo
O agouro exibido com orgulho pelos homens
Com o porte das ferramentas de tortura e alimento
É agora nada mais e muito mais que nada menos
Do que uma cadeia celebrada com vigor

O mês de junho em Marabá

Passei quase todo o mês passado na cidade quente de Marabá, dessa vez mais quente ainda por causa do verão e das queimadas naturais que acontecem nesse período; a casa ficava cheia de cinzas dos focos de incêndio. Um cenário curioso e meio assustador.

Fiquei a maior parte do tempo com meus gatos, Guya e Guel, enquanto meu namorado, cansado, se dividia no trabalho com os shows que ele tem feito ultimamente.

Cozinhei bastante, lavei muita louça e varri a casa todos os dias. Deveria ter estudado, mas acabei direcionando minha atenção pra atividades mundanas; terminei uma temporada de Queer Eye, revi RuPaul e acompanhei as atualizações completamente inúteis do feed no youtube.

Os ensaios para morar junto sempre revelam surpresas e desafios novos, no entanto, essa última vez foi menos tumultuada. O que me leva a vislumbrar uma possibilidade real mais próxima e factível.

We hate it when our friends become successful

Sou uma péssima pessoa. Ao invés de sentir felicidade pelo sucesso dos meus amigos; sinto inveja. Comparo suas conquistas com minha derrota generalizada. Me sinto ficando para trás e asfixiado.

Esse ano tomei uma decisão importante..., mas o medo de fracassar é tão grande. Queria ter força e mais determinação para enfrenta-lo. Parece que já desisti sem tentar, eu sei. Não seria novidade para mim. Vou procurar me fortalecer, estudar para esse exame e me arriscar. Tenho que dizer isso inúmeras vezes para mim mesmo. É preciso.

Pai de Daniel Zamudio: “quando se tem um filho gay e você o ama, você deixa de ser machista”

[entrevista traduzida do site chileno The Clinic Online e autoria de Camila Gutiérrez. Publicada em 22 de março de 2012]

Essa história começa com um anonimato: Iván Zamudio tem uma trajetória como qualquer outro. Namorou, casou, teve filhos e se separou. Uma trajetória comum até que o seu segundo filho, Daniel, foi golpeado brutalmente por não ser heterossexual. Então, Iván, precisa se armar novamente.

Iván Zamudio tem 20 anos, talvez, e gosta de Donna Summer. Gosta de mulheres morenas como Dona Summer, ou como Jacqueline, que vai ao colégio quando começam a namorar. Iván Zamudio tem 23 anos quando se casa com Jacqueline. Tem mais de 40, quando se separam. Tem 50 – exatos – quando sua vida, parecida com a de qualquer um, se transforma em algo que não havia pensado: 5 de março, 2012, o sobrenome Zamudio deixa de ser anônimo porque seu segundo filho, Daniel, é encontrado quase morto no Parque San Borja.

A vida de Daniel Zamudio antes do ataque brutal

[matéria traduzida do site chileno The Clinic Online e autoria de Camila Gutiérrez. Publicada em 7 de março de 2012]

Quando pequeno, gostava de cozinhar comida chinesa e desenhar o naufrágio do Titanic. Agora estava trabalhando em uma loja de roupas, queria terminar o ensino médio e juntava dinheiro para poder estudar modelagem. Uma vida como qualquer outra, mas com uma história de injustiça: a de um rapaz de 24 anos que, por não fazer nada – por simplesmente ser gay – foi arrastado pela terra, terminou violentado por um grupo neonazista, com suásticas em seu corpo e em coma.

Se começar pelo final, a imagem é de Jaqueline Vera rezando, esperando em casa pelo segundo de seus quatro filhos, aquele que quer estudar modelagem, aquele que trabalha em uma loja de roupas – Daniel – voltar.

Jaqueline ainda não sabe que ele está atirado numa praça, que uma parte de sua orelha está cortada, que tem suásticas no peito e nos braços feitos com o gargalo de uma garrafa, que um grupo neonazista o atacou e o arrastou pela terra até as feridas se encherem de formiga.

Neonazistas deixaram em coma um jovem gay após agressão, deixando marcas de suásticas em seu corpo e uma orelha cortada

[matéria traduzida do site chileno The Clinic Online. Publicada em 6 de março de 2012]

Um homossexual está em coma após ser atacado por um grupo de neonazistas, que também marcou suásticas em seu corpo e cortou parte de sua orelha, segundo denúncia feita hoje por entidades associadas a defesa de minorias sexuais.

Em um comunicado, o Movimento de Integração e Liberação Homossexual (Movilh) divulgou que a agressão aconteceu no último fim de semana e que o jovem, identificado como Daniel Zamudio, de 24 anos, se encontra em coma na Postal Central (hospital de urgências) de Santiago.

Cordões umbilicais que sofucam

Não é exagero quando digo sobre minha anulação ser constante e cada vez mais deprimente, em picos patológicos de pura dualidade sentimental, como uma verdadeira prisão. Eu fico preso em mim e o modo automático é acionado; apenas reajo aos estímulos, sorrio, troco afetos e depois as fantasias suicidas ou a morbidez comum sobressaem.

Apesar disso, não rejeito o amor, retribuo, sou imensamente grato pela segurança e carinho. Só que nem sempre o ar das graças é doce; dores e frustrações passadas seguem perseguindo, há desconfianças e decepções. Coisa familiar, creio.

Expódio

Aglomerado de criaturas expostas num parque
Subsistem com baixa energia perante desgosto alheio
Há troncos retorcidos em uma estrutura deplorável
Corpos deformados desfalecem no ar
Foram tantas as tentativas frustradas de cultivo do solo
Que passar os dias com mínima expectativa nem é mais de se espantar
A lástima coletiva e o padecimento viraram praxe entre os seres

Retomando

Excluí todas as postagens anteriores porque percebi um pedantismo imenso em mim e agora vou recomeçar de um jeito melhor. Espero.

Qualquer coisa posso deletar tudo de novo e ninguém vai saber.

Acontece que dei uma diminuída nas pinturas com tinta e comecei a desenhar mais no computador. Porque acho tranquilo e sou familiarizado com os materiais e programas. Mas pretendo eventualmente retomar a pintura. Só preciso me organizar pra comprar tintas melhores. O papel já tenho; canson A3 300g.

Tentei pintar ontem, inclusive. Perdi uma folha e estraguei um pincel por causa da tinta Acrilex "dimensional mettalic". Ela parece uma cola. De verdade, preciso investir em tintas melhores.